Fafe Milenar
O atual concelho de Fafe desenvolvia-se, até às reformas liberais do século XIX, sob a designação de Monte Longo, com apenas onze freguesias e vindo já de tempos anteriores à fundação da nacionalidade.
Foi por esse território concelhio que andaram povos antigos, como os celtas e os romanos, de cuja ocupação existem abundantes vestígios arqueológicos ainda visíveis. Na verdade, as condições morfológicas existentes no território que atualmente constitui o concelho, possibilitaram a implantação de núcleos pré-históricos, bem como a fixação de comunidades proto-históricas, havendo igualmente notícia de alguns (poucos) núcleos de povoamento romano. Terá, assim, havido ocupação humana neste espaço pelo menos desde o século V antes de Cristo. O mais conhecido sítio arqueológico do município, de que há notícia desde finais do século XIX, é o Povoado de Santo Ovídio, às portas da cidade. Por volta de 1870, aí foi descoberta pelo arqueólogo Martins Sarmento uma estátua de guerreiro galaico, na altura em que se abriam os alicerces para a construção da capela em honra de Santo Ovídio, a qual se encontra desde essa altura no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães.
Todavia, com segurança, pode considerar-se que o antiquíssimo Monte Longo era um município medieval, sendo emblemática desse período a Igreja Românica de Arões (século XIII), único monumento nacional existente no concelho.
Origens do nome Fafe
Quando aparece pela primeira vez o topónimo Fafe na documentação escrita?
Sendo certo que só tardiamente se usa a designação Fafe, em pleno século XVII, o arabista Pedro Cunha Serra é de opinião que aquele topónimo surgiu em escritos “apenas quando o crescimento ou qualquer dos vários fatores que dão importância a uma povoação tornaram forçosamente mais notórios os seus nomes”. Segundo este autor, é indubitável a origem do topónimo no nome pessoal árabe “Falaf”, tornando-se fácil indicar documentos portugueses onde se nomeiam indivíduos cujo nome é a base deste topónimo: desde Halaf (1016) a Falafe (1127). Ainda na sua opinião, a primeira vez que surge concretamente o topónimo Fafe na documentação é em 1647, no Inventário dos livros de matrícula dos moradores da Casa Real.
Para Pedro Cunha Serra, portanto, o topónimo Fafe provém da evolução de um nome pessoal árabe. O assunto tem merecido alguma discussão e nem todos os especialistas estão de acordo.
Num outro sentido se pronunciam Leite de Vasconcelos e A. de Almeida Fernandes, baseados nos nomes medievais Fafiz, Fafiiz, Fafilaz, Fafez, Fafias. Contrariam a origem arábica do topónimo, defendendo como “mais aceitável” a origem germânica: no caso mais antigo, o genitivo Fafi e, no mais moderno, o hipocorístico Fafila.
Fafe tem origem árabe ou germânica? As explicações dividem-se. Todavia, há mais opiniões, e quiçá mais popularizadas, sobre a matéria. Segundo os enciclopedistas e dicionaristas, a designação Fafe provirá do rico-homem e alferes-mor do Conde D. Henrique, D. Fafes Luz, ou de seu filho D. Godinho Fafes, presumivelmente senhores da terra aí pelo século XII. É, no entanto, estranho que o nome apenas entre na documentação passados cinco séculos, o que deveria fazer cair por terra tal teoria. Mas não é tudo. Há ainda uma outra tese, a daqueles que fazem entroncar a origem do topónimo num pássaro abundante na região, no passado, de nome Dom Fafe.
Seja qual for a explicação, ou a teoria para a origem do nome, o que parece indesmentível é que a designação Fafe aparece muito tardiamente, quando a povoação já levava muitos séculos de existência. A sua importância também só nos séculos mais recentes se faz vincar.
Foral Manuelino (1513)
Monte Longo teve o seu único foral outorgado pelo Rei D. Manuel em 5 de novembro de 1513.
Os forais eram, na Idade Média, diplomas pelos quais o Rei ou o Senhor garantia aos moradores de determinada terra certas regalias e privilégios, visando incrementar o povoamento e a fixação das pessoas. Em grande parte dos casos, as cartas de foral eram os documentos fundadores dos concelhos, regulando a vida jurídica, administrativa e comercial das populações.
Monte Longo não está neste caso. O concelho já existia, no início do século XVI, com a sua Câmara (onde foi depositado um dos três exemplares do foral e que ainda aí se guarda) e a sua administração municipal. Sabemos pela documentação que o município já vinha da era medieval, como se comprova pelas Inquirições de 1220 e de 1258, herdeiro da terra de Monte Longo, de que há notícia desde o séc. XI. O foral não cria assim o concelho, antes o legitima.
O foral outorgado “à terra e concelho de mote longuo”, em Lisboa, no dia 5 de Novembro de 1513 estabelece os procedimentos a observar pelas populações quanto aos montados, aos maninhos, tabeliães, ao gado extraviado e às penas resultantes do uso das armas. A certeza é a de que estamos em presença de uma sociedade rural, que vivia basicamente da exploração da atividade agrícola e pecuária. O foral de Monte Longo revela ainda alguns dos funcionários concelhios existentes à altura: o mordomo do senhorio, que deveria arrecadar os foros, o montador, os três tabeliães pagos pelos habitantes do concelho (mil e oitenta reais), o meirinho e os juízes.
Por outro lado, demarca claramente a autonomia do concelho, patente na proibição de ingerência dos funcionários da administração central em várias facetas da vida local, designadamente, pelo impedimento da intervenção dos almoxarifes, contadores e outros oficiais régios em casos de quebra do cumprimento do foral, sob pena de serem destituídos para sempre das suas funções.
Na altura da outorga do foral, o concelho de Monte Longo era formado por apenas 13 freguesias e dois coutos.
Crescimento de Fafe (Vila a Cidade)
Monte Longo foi assim um pequeno município de interior, de base rural, agrícola e pecuária, até às primeiras décadas ao século XIX. Foi por esta altura que se deu o nascimento de Fafe moderno. Fafe é, de algum modo, uma construção do século XIX e dos “brasileiros”.
Nesse século, mudou de designação, de Monte Longo para Fafe; quase triplicou territorialmente, passando para as 36 freguesias que tem actualmente, à custa dos vizinhos municípios de Guimarães, Cabeceiras e Celorico de Basto, ganhando a configuração que chegou aos nossos dias. Na segunda metade do século XIX, “explodiu” em progresso, alcançou um centro urbano moderno, viu nascer as primeiras indústrias, promoveu obras de assistência e filantropia, através sobretudo dos chamados “brasileiros de torna-viagem”. São dessa época a Misericórdia, o Hospital, os Bombeiros, o Jardim Público.
Do início do século XX, são a instalação do comboio entre Guimarães e Fafe (1907), a iluminação pública e privada a partir da central de Santa Rita (1914), uma das primeiras da região e o Teatro Cinema (1923), entre outros elementos de progresso.
Continuariam, depois, as obras da República, as realizações do Estado Novo e, sobretudo, as que, após o 25 de Abril de 1974, rasgaram de progresso todo o concelho, que adquiriu um novo rosto, rumo à modernidade.
O centro urbano, coincidente com a freguesia de Santa Eulália de Fafe – que sempre foi a sede do concelho – ocupa uma localização concêntrica em relação ao território municipal e às principais vias de acesso.
A cidade é um espaço moderno, com apenas século e meio de existência na sua configuração actual. A par da sua arquitetura mais recente, impõe-se no centro histórico a “arquitetura dos brasileiros”, um conjunto de construções dos finais do século XIX e primeiras décadas do seguinte, fruto de capitais de fafenses emigrados no Brasil. Aqui se concentram os serviços públicos mais importantes, os bancos, a atividade comercial, as escolas (primárias, preparatórias e secundária), equipamentos culturais e desportivos. Em 23 de agosto de 1986, Fafe atingiu o estatuto de cidade, em razão do desenvolvimento adquirido na altura.