A Câmara Municipal de Fafe acaba de editar mais um número da revista cultural Dom Fafes, publicação que tem por objetivo a edição de trabalhos de investigação sobre aspetos da história do município.
O presente número da publicação (23/27), corresponde aos anos de 2016 a 2020 e integra um conjunto de textos de grande interesse para o conhecimento do concelho e da sua história, em diferentes tempos cronológicos.
Os destaques desta edição são quatro trabalhos concorrentes e vencedores do Prémio de História Local – Câmara Municipal de Fafe.
O primeiro texto, que venceu a edição de 2016, tem como título “Requalificação do Palacete Manuel Rodrigues Alves: Re-Integração do Palacete no Quotidiano da Cidade” e é da autoria da jovem arquiteta Ana Isabel Teixeira. A autora passa em revista os edifícios mais icónicos que os “brasileiros” nos legaram e detém-se na identificação, enquadramento e caraterização exterior e interior do “chalet” de influência francesa de Carlos Manuel Rodrigues Alves, concluído em 1912 e que é também conhecido como a “casa Soledade Summavielle” e que o professor e arquitecto Domingos Tavares (FAUP) considera “como uma obra que não tem paralelo na arquitectura portuguesa, nem mesmo produrando entre os mais vistosos chalets da burguesia ou em exemplos mais ou menos torreados de casas dos torna-viagem”. A parte final do artigo, inclui propostas para a requalificação do palacete e sua integração no quotidiano da cidade.
Com alguma ligação epocal, surge o segundo texto, de 2018, intitulado “O Bijou de Fafe”, de Lídia Fernandes, jovem licenciada em Teatro. O artigo versa o Teatro-Cinema de Fafe, inaugurado em Janeiro de 1924. Aquela icónica sala de espetáculos, por onde passaram as melhores companhias de teatro nacionais nos anos 20 e 30 do século transato, era considerada a mais bela, confortável e segura da região norte e até do país, para grande orgulho os fafenses. O Teatro-Cinema de Fafe, que acolheu também o cinema a partir do ano de abertura, esteve aberta até ao início dos anos 80, quando foi mandada encerrar por questões de segurança. O edifício foi adquirido pelo Município em 2001 e restaurado, reabrindo para fruição dos fafenses em 25 de Abril de 2009.
“Biografia do médico José Teixeira e Castro Guimarães – autor de A Luz electrica (jornal O Povo de Fafe, 1914-1915)” é o texto de investigação com que Paula Ramos Nogueira, doutorada em História das Ciências e Educação Científica, venceu a 17ª edição do Prémio de História Local, no ano de 2019.
José Teixeira e Castro Guimarães (1870-1940), republicano, foi médico e vereador da pelouro da iluminação no Município de Fafe, nos primeiros anos da I República. Coube-lhe acompanhar os trabalhos de instalação técnica da Central Hidroelétrica de Santa Rita, inaugurada solenemente em 5 de Outubro de 1914 e que permitiu a chegada da luz elétrica à então Vila de Fafe.
Entretanto, publicou um conjunto de dez artigos de divulgação científica sobre “A luz elétrica”, no jornal local O Povo de Fafe, entre Outubro de 1914 e Janeiro de 1915. Os textos abordados revelam um estudioso e conhecedor dos avanços da ciência e da tecnologia, neste caso, no âmbito da “luz eléctrica” numa linguagem acessível para o público leitor do jornal.
José Teixeira e Castro Guimarães, embora potencialmente bem posicionado para se tornar uma figura destacada no âmbito do Partido Republicano em Fafe, acabou por abandonar a política muito cedo, passando a dedicar-se exclusivamente à medicina e ao ensino na Escola Primária Superior de Fafe (1919-1926). O presente trabalho procura resgatar do olvido a memória deste fafense ilustre.
Finalmente, de destacar o trabalho de investigação com o título “Gafaria e Capela. Caso de Santo André de Bouças (Golães-Fafe)”, da autoria de Maryse Elodie Pires Teixeira, licenciada em História, vencedora da 18ª edição do Prémio de História Local, no ano de 2020.
O artigo visa dar a conhecer o que era e quando funcionou a gafaria, estabelecimento medieval de assistência e acolhimento de leprosos, localizado em Bouças, bem como a Capela de Santo André, que chegou até aos nossos dias. Na época medieval, era frequente a associação entre a leprosaria e a capela, que os enfermos frequentavam, sendo que havia a determinação da construção de capelas e cemitérios junto às gafarias que tivessem um número significativo de leprosos.
Num segundo momento, Maryse Teixeira versa a religião e a arquitetura medieval, como enquadramento para a abordagem da Capela de Santo André de Bouças, que em 1258 estava associada à gafaria, entretanto desaparecida e que lhe sobreviveu até aos nossos dias. A capela estava no século XVIII sob a alçada da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, sendo em 2002 adquirida pelo Município de Fafe, que a restaurou e doou à Junta de Freguesia de Golães, a quem pertence na atualidade.
O conteúdo deste número da Dom Fafes inclui ainda um estudo de Artur F. Coimbra sobre a gripe pneumónica, que assolou o mundo, o país e o território fafense, entre os anos de 1918 e 1919, sendo considerada pelos estudiosos a doença mais mortífera de todos os tempos, calculando-se que tenha vitimado entre as 50 e as 100 milhões de pessoas, sendo que em Portugal ceifou a vida a mais de 130 mil cidadãos, numa altura em que o país tinha cerca de 6 milhões de habitantes. Em Fafe, terão morrido mais de 500 pessoas vitimadas pela epidemia. Neste ensaio, evidencia-se o impacto da epidemia no município de Fafe, com base sobretudo na imprensa local da época.
Este número da Dom Fafes – que tem 206 páginas e está à venda na Biblioteca Municipal de Fafe - continua a publicar textos fundamentais para a memória de Fafe em áreas distintas e cuja leitura se recomenda vivamente!