“A nossa melhor recompensa é salvar uma vida e entregar uma criança nos braços dos seus pais”
A 4ª edição do Encontro Internacional e Causas e Valores da Humanidade Terra Justa começou, esta manhã, com a inauguração do Caminho das Causas, uma exposição de rua que celebra os valores e causas da Humanidade e que, este ano, se debruça sobre o tema ‘A Pessoa e a Igualdade - Cuidar o Futuro dos Direitos Humanos’. Localizado no centro da cidade, o caminho das causas é constituído por objectos que por si só apresentam dados desconhecidos, factos, números e histórias reais que remetem para os grandes valores da humanidade.
O primeiro dia do Terra Justa ficou marcado pela Homenagem aos White Helmet/Capacetes Brancos, com a presença de Ahmad Al Yousef e Nezal Izdden, membros desta organização não governamental, voluntários que procuram salvar vidas na Síria, um dos mais complexos cenários de guerra da actualidade. Foi inaugurada, no Arquivo Municipal, uma Exposição, que lá ficará patente, e que retrata o trabalho desta ONG.
Ahmad Al Yousef , membro dos Capacetes Brancos/White Helmets, revelou que “os Capacetes Brancos/White Helmets são uma organização que trabalha em nove distritos, com 137 pontos de comunicação e 4000 voluntários.
A nossa principal missão é busca e salvamento. O nosso trabalho é salvar as pessoas depois dos bombardeamentos diários de que são alvo e, posterior, reconstrução dos serviços básicos.”
Até agora salvamos 114 mil pessoas, mas já perdemos 237 voluntários!”
Ahmad Al Yousef , que antes de ingressar nesta ONG, era professor de Matemática, revela que “os Capacetes Brancos foram criados para dar resposta a uma necessidade: encontrar pessoas voluntárias para ajudar em zonas de crise. Candidatei-me a esta missão precisamente para preencher uma lacuna importante, uma vez que não havia ninguém a fazer este trabalho. As pessoas que trabalham nos Capacetes brancos são voluntários e são muito felizes por desempenhar esse papel.”
Sobre esta Homenagem do Terra Justa, Ahmad Al Yousef, revela que “é um reconhecimento importante, que faz com que sintamos que existem pessoas solidárias connosco. Mas a nossa melhor recompensa é salvar uma vida e entregar uma criança aos braços dos seus pais.”
Raul Cunha, Presidente da Câmara Municipal de Fafe, revela que “esta foi uma excelente forma de começar a quarta edição do Terra Justa com a Homenagem aos Capacetes Brancos que, pese embora diferentes ideologias políticas e distintas opiniões, são pessoas que se preocupam em ajudar vítimas da guerra e é este lado humanitário que queremos reconhecer e homenagear.”
O papel dos Capacetes Brancos na defesa dos Direitos Humanos
Os White Helmet/Capacetes Brancos depositaram, esta tarde, a mensagem no Mural das Causas, perpetuando assim a sua causa que, de acordo com os membros voluntários que marcam presença no Terra Justa, “servirá para deixar um retrato daquilo que se passa, actualmente, na Síria para nunca mais ser esquecido.”
Mais tarde, uma Conversa de Café, moderada pela Jornalista Cândida Pinto destacou o papel dos White Helmet/Capacetes Brancos na defesa dos Direitos Humanos, numa reflexão com Ahmad Al Yousef e Nezal Izdden, membros voluntários da ONG.
Na Escola Secundária de Fafe, dezenas de alunos participaram numa aula aberta dedicada à “Religião Violência: Imagem a Desconstruir”, com a presença de Alexandre Honrado, Paulo Mendes Pinto e Joaquim Franco.
Cerimónia de homenagem aos White Helmets/Capacetes Brancos
Conceição Queiroz recebe Prémio Jornalismo pela Paz ‘Maria Barroso Soares’
A noite de ontem ficou marcada pela Homenagem aos White Helmets/Capacetes Brancos, numa cerimónia no Teatro Cinema.
Cândida Pinto, moderadora da cerimónia, revelou que “a linha que separa a guerra da paz é uma linha muito ténue. As guerras são frias, feias e cansativas. Apesar de tentarmos imaginar o que se passa em contextos de guerra, temos grande dificuldade em perceber o que é viver naquela realidade há tanto tempo.
O trabalho que esta ONG faz na Síria é um trabalho extraordinário que merece ser reconhecido por todos.
Há tempos ouvi que um Sírio quando está fora da Síria, ao ouvir um avião, assusta-se, porque lembra, de imediato, um bombardeamento. Para nós, uma avião é só e apenas sinónimo de viagem...”
Visivelmente emocionado, Nedal Izdden, membro dos White Helmets, revelou, que aquilo que mais desejam “é ver a paz, poder ouvir música, como aqui aconteceu, regressar às nossas casas, às nossas famílias de onde fomos forçados a sair.”
“Nós somos testemunhas oculares do horror que se passa na Síria. Somos os primeiros a correr para o bombardeamento, enquanto todos os outros fogem.”, adiantou.
Ahmad Yoused explicou, por sua vez, que o “financiamento dos Capacetes brancos é conseguido através de países doadores e daqueles a que chamamos de ‘amigos dos Capacetes Brancos: mais de 200 mil pessoas que nos ajudam a ser heróis também.”
Sobre aquilo que aconteceu a 7 de Abril, em Douma, Amad explicou que “foi um dia muito triste. Uma tragédia, A primeira vez que o regime sírio atingiu civis com armas químicas e que causou a morte de 42 pessoas. Nesse dia, só conseguimos chegar às vítimas duas horas depois, porque eram bombardeamentos atrás de bombardeamentos.”
Os dois voluntários aproveitaram ainda para revelar que, no que toca às ligações à Al Qaeda, de que agora se fala, “são acusações cómicas que não fazem sentido nenhum para nós. A nossa missão é salvar vidas, independentemente da origem, crença, religião ou cor de pele.”
O Presidente da Câmara Municipal de Fafe, Raul Cunha, destacou o papel fundamental que a ONG desempenha na defesa dos Direitos Humanos e na protecção de vidas em contextos de guerra.
“Depois de tudo o que vimos e ouvirmos, durante o dia de hoje, sobre o trabalho destes bravos homens está mais que justificado esta reconhecimento e homenagem aos Capacetes Brancos. É de louvar a coragem destes homens e mulheres que, diariamente, empenham todo o seu esforço e dedicação para salvar vidas!
O Terra Justa tem o maior prazer em homenagear-vos!”.
Um dos momentos de destaque, neste primeiro dia, foi a entrega, na noite de ontem, pela mão de Isabel Soares do Prémio Jornalismo pela Paz ‘Maria Barroso Soares’ à Jornalista da TVI Conceição Queiróz que, na ocasião, mostrou o seu orgulho pela distinção e recordou Maria de Jesus Barroso Soares como “uma mulher preocupada e com uma enorme sensibilidade com as crianças, sobretudo no que toca a problemas de saúde. Ela foi o rosto também da luta pela paz, pelos Direitos Humanos.”
A jornalista recordou ainda uma das reportagens que mais lhe ficou na memória sobre a mutilação genital feminina, revelando que “aquilo que ouvi durante o trabalho de investigação foi das coisas mais violentas que ouvi enquanto jornalista. Eu esperei 10 anos para conseguir ir para o terreno e partilhar este trabalho com o público.”
Vídeo Resumo Primeiro Dia Terra Justa (aqui)