O Terra Justa continua a marcar a agenda fafense. Hoje, homenageamos a OVAR – Obra Vicentina Auxílio aos Reclusos, organização fundada em 1969, prestes a fazer 50 anos e que recebeu, em dezembro último, o Prémio Direitos Humanos 2018, da Assembleia da República.
Manuel Almeida Santos, presidente da OVAR, está em Fafe para trazer a público realidades desconhecidas e fraturantes sobre o sistema, dando a conhecer a problemática das prisões e dos reclusos.
“A verdade escondida atrás das grades” foi o mote para uma Conversa de Café, no South África, onde se falou sobre a problemática das prisões e dos reclusos com António Pedro Martins, o Pe. João Gonçalves e, a moderar, Inês Leitão.
No Mural das Causas, ficou perpetuada a mensagem da OVAR pela mão de Manuel Almeida Santos (Presidente da instituição). Daqui por 25 anos, conheceremos a perspectiva e visão da OVAR sobre o futuro da realidade do sistema prisional em Portugal.
Recorde-se que o Mural das Causas é o monumento que tem acompanhado a história do Terra Justa e onde estão depositadas já várias mensagens sobre o futuro da humanidade, que serão abertas apenas daqui por 25 anos.
A história da OVAR ficou patente no Arquivo Municipal com uma Exposição dedicada à instituição, onde se percorre o trabalho da OVAR junto dos reclusos do sistema prisional português.
O jornalista Hernâni Carvalho e Almeida Santos, Presidente da OVAR, mostraram-nos, no Café Arcada, o ‘Sistema Prisional Desconhecido’, mostrando as dificuldades e desafios do sistema prisional português.
Almeida Santos revelou, na sua vinda a Fafe, alguns números alarmantes:“ Somos o país mais punitivo. O tempo médio de cumprimento de pena, no nosso país, é de 32 meses, enquanto que a média da União Europeia é de 8 meses. Em 1973, Portugal tinha cerca de 3000 reclusos nos estabelecimentos prisionais. Hoje o número ascende aos 13 mil reclusos. Estes números são justificados por dois grandes fatores: a desigualdade que se traduz na pobreza e a questão das drogas.”, revelando, ainda, o dia a dia de muitos estabelecimentos prisonais portugueses, onde a desigualdade a descriminação são pontos de ordem.
"Portugal é sistematicamente condenado pelo Conselho da Europa e pelas Nações Unidas, porque não cumpre os tratados e as convenções internacionais que assina e a que está obrigado", afirmou Almeida Santos, defendendo que "quem devia estar nas prisões é quem desempenha funções de responsabilidade e tem obrigação de dar o exemplo no cumprimento das leis".
"Andamos a reclamar direitos humanos, mas depois somos inimigos da humanização de todas as estruturas prisionais", destacou ainda, criticando a comunicação social por ter, por vezes, um "papel de incitamento à vingança, ao ódio e ao castigo".
No Teatro Cinema, o Pe. João Gonçalves recebeu, das mãos de Frei Fernando Ventura, Embaixador do Terra Justa, o Prémio ‘Gente de Paz e de Justiça’ pelo trabalho meritório desenvolvido em prol dos reclusos e dos seus direitos.
A Conferência de Homenagem à OVAR contou com a presença de vários convidados, entre os quais Manuel Almeida Santos, Jorge Antunes (Ex–Dirigente da APAR), Belmiro Sousa (Empresário), Pedro Bacelar Vasconcelos (Presidente Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias ), Rui Albuquerque (Subdirector da Fac. Direito e Ciência Política Univ. Lusófona Porto) e Hernâni Carvalho.
Na ocasião, salientou-se a necessidade de um trabalho maior na promoção dos direitos dos reclusos, da sua dignidade e inserção e integração na sociedade civil.