O terceiro dia do Terra Justa ficou marcado pela homenagem póstuma a Maria de Lourdes Pintasilgo, a única primeira Primeira Ministra de Portugal. No Café Shake, Margarida Santos e Teresa Vasconcelos falaram-nos sobre Maria de Lourdes Pintasilgo, reconhecendo a ex-governante, como uma mulher de causas e valores e um dos nomes grandes da nossa democracia.
Margarida Santos, Presidente da Fundação Cuidar o Futuro, explicou que “Maria de Lourdes Pintasilgo criou a Fundação depois da participação activa em muitos fóruns internacionais, querendo dar expressão institucional a questões e a causas que considerava fundamentais.”
“A Cuidar o Futuro funciona hoje como uma forma de divulgar as causas e valores de Maria de Lourdes Pintasilgo.”
Teresa Vasconcelos, do Movimento Graal, aproveitou a ociasião para enaltecer “o espírito combativo de uma mulher que dedicava a sua vida a três grandes causas: a causa humana e solidária; a causa das mulheres e a causa política, com o compromisso com os mais desfavorecidos.”
“Era uma mulher de fé, comprometida com o evangelho e de uma profunda espiritualidade. Maria de Lourdes foi uma mulher única e acho que o país se deveria orgulhar desta mulher. Foi pioneira na introdução das questões das mulheres em Portugal; foi pioneira em trazer o sentitdo do cuidado e da ética à política e foi pioneira na combinação entre o sentido religioso e o sentido do compromisso social. Foi das mulheres que mais defendeu a solidariedade, que denunciou as situações de pobreza e que todo o seu trabalho foi em favor dos mais desfavorecidos.”
“Foi uma mulher visionária, utópica. Mas foi também uma mulher incompreendida, porque era extremamente frontal, questionava o estatuto da mulher no nosso país, o que não era compreendido pela Igreja e pela Política. Mulher muito combativa, mas muito mal amada. E eu sei que ela sofria por isso.”
Sobre esta distinção no Terra Justa, Teresa Vasconcelos garante que “se Maria de Lourdes estivesse cá, iria ficar muito feliz e orgulhosa. Esta era uma homenagem que faltava. Fafe está a fazer aquilo que o país lhe deveria ter feito.”
Também no Mural das Causas, situado em pleno centro da cidade, ficou perpetuada a mensagem da ex governante, que será lida daqui por 25 anos, como todas as mensagens lá depositadas pelos homenageados - como António Guterres, Maria Jesus Barroso Soares, Cardeal Óscar Maradiaga, entre tantos outros - que, durante os últimos três anos, passaram por Fafe.
Sobre esta mensagem, Teresa Vasconcelos garante “que é algo que aponta para o futuro para dizer que é preciso fazer mais. A vida dela era toda orientada para o futuro”, recordando a “inauguração de um rua com o nome da antiga Primeira Ministra no Algarve, que ainda não tinha casas e que retrativa, por isso, e muito bem aquilo que foi Maria de Lourdes: uma mulher das casas de futuro.”
A tarde ficou marcada pela inauguração da Exposição Cuidar o Futuro – Maria de Lourdes Pintasilgo, no Arquivo Municipal, na qual se retrata a vida, a história e o trabalho daquela que foi a única mulher a assumir o cargo de Primeira Ministra de Portugal.
Com Catarina Marcelino e Manuela Silva, falou-se de ‘Mulheres no Poder’ no Café Shake, em mais uma conversa que, desta feita, destacou o papel das mulheres na sociedade e em especial nos cargos políticos.
Cerimónia de Homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo
O Teatro Cinema acolheu, na noite de ontem, uma Homenagem póstuma a Maria de Lourdes Pintasilgo, numa iniciativa que contou com o apoio da Fundação Cuidar o Futuro e com a presença de pessoas próximas daquela que foi a única primeira primeira ministra de Portugal.
Todos os convidados - Afonso Camões, Manuel Villas Boas, Luís Moita, Teresa Vasconcelos, Margarida Santos, Manuela Silva, Coronel Rodrigo Sousa e Castro, Catarina Marcelino, António Marujo e António Sampaio da Nóvoa - refiraram-se a Maria de Lourdes Pintasilgo como uma “mulher alegre, com sentido de humor e uma enorme capacidade de rir. Era uma mulher de paixões, convicões, profundamente livre, com coragem de enfrentar aquilo em que não se podia tocar. Maria de Lourdes era uma mulher de ouvir. Todos e qualquer um.”
"Ela é uma mística maior do nosso tempo e um Espírito desassosseado. Maria de Lourdes era profundamente utópica, na sua capacidade de olhar horizonte e manter-se no caminho"
Sobre esta distinção foram unânimes e consideraram e “é uma justiça imensa que o Terra Justa faça esta homenagem. Aqui reconhecemos uma política, uma mulher que fez muito pelo país e que nem a sua morte teve a homenagem devida."