O Museu das Migrações e das Comunidades, projecto dinamizado pelo Município e sediado em Fafe, foi convidado a participar no seminário sobre "O Brasileiro de Torna-Viagem e a Construção da Luso-brasilidade no Oitocentos", muito centrado nas memórias de Fafe, o qual teve lugar na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro (Brasil).
O evento foi organizado pela Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil, pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense e pelo Município de Fafe.
A figura do Brasileiro de Torna Viagem na sociedade portuguesa da segunda metade de Oitocentos foi explorada por Isilda Monteiro, investigadora do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da Universidade do Porto e professora da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, no Porto.
A investigadora identificou os discursos negativos sobre a emigração para o Brasil, por parte do poder político e dos literatos da época, enquanto o discurso da imprensa local era bem mais positivo, entendendo os emigrantes como protagonistas do desenvolvimento local e como benfeitores da sociedade de origem.
No âmbito da mesa-redonda em torno da “Memória da Imigração”, mediada pela Prof. Dra. Ismênia Martins, da Universidade Federal Fluminense, Ana Pessoa, investigadora da Fundação Casa de Rui Barbosa, dissertou sobre a trajectória, no Rio de Janeiro, de um “brasileiro torna-viagem”, o conhecido Comendador fafense Albino de Oliveira Guimarães, bem como o percurso na sua cidade natal, Fafe, em finais do século XIX, para onde retornou depois de ter promovido profunda reforma, enquanto proprietário, de chácara em Botafogo que, anos depois, se tornaria o Museu Casa de Rui Barbosa.
Ainda sobre Albino de Oliveira Guimarães falou a sua bisneta Maria Luísa Campos de Carvalho, curadora do arquivo da família, lembrando histórias, desfiando memórias e abordando documentos sobre os seus ascendentes.
Finalmente, Artur Coimbra, director do Museu das Migrações e das Comunidades, abordou a emigração dos fafenses para o Brasil, de meados de século XIX a meados do século XX e, desde essa altura, para a Europa e em especial para a França, não esquecendo a emigração mais recente.
Centrou a sua intervenção sobre as marcas dos “brasileiros de torna-viagem” e falou do Museu das Migrações e das Comunidades como memória das mobilidades portuguesas, seus objectivos e propostas.
No âmbito do seminário, foi inaugurada a exposição Fafe dos ‘brasileiros': heranças e memórias. Aberta até 24 de Novembro, a exposição é uma realização das entidades organizadoras do seminário e compõe-se de seis painéis, abordando temas como "heranças e memórias", "um ‘brasileiro' de torna-viagem", "a renovação de Fafe", "casa dos brasileiros" e "campo & cidade". Cada tema dá nome a um dos painéis.
A exposição apresenta a trajectória do "brasileiro" de torna-viagem, Comendador Albino de Oliveira Guimarães (1833-1904) e sua cidade, Fafe, para onde retornou, após décadas no Rio de Janeiro. Também retrata o legado dos "brasileiros" de Fafe, o espírito empreendedor dos emigrantes "retornados".
Duas vitrinas expõem vária documentação da família de Oliveira Guimarães. O acervo é formado por cartas, cartões, fotografias e documentos que testemunham a comunicação entre parentes e amigos que tentavam superar as distâncias. São documentos e objectos pessoais que trazem as marcas da emigração e da vida privada na transição do século XIX para o século XX, nos dois lados do Atlântico.