Promovido pelo Município o evento inédito envolverá o centro da cidade numa atmosfera mística na noite de 31 de outubro, onde não faltará música, teatro e encenações de rua.

A Praça 25 de abril será o centro de toda a ação e o palco central para a recriação da versão fafense da lenda d'“A Bicha das 7 Cabeças”. O programa começa a partir das 21h00, e inclui música – com os concertos das bandas “Cabra Çega” e “VanBloom” –, teatro e encenações de rua. Artistas de fogo, lobisomens, andas, personagens misteriosas, figuras fantasmagóricas e adivinhos animarão uma noite que se pretende repleta de misticismo ancestral.

Tudo começa com «A Noite das 7 Pragas», uma performance teatral com participação comunitária e produção da Companhia Malazartes. O espetáculo, inspirado na versão fafense da lenda, reflete uma memória coletiva baseada em assombros, maldições e milagres. Esta performance está aberta à participação de toda a comunidade e os ensaios realizam-se, até ao dia do evento, às terças e quintas feiras, na sede da Junta de Freguesia de Antime e Silvares S. Clemente, a partir das 21h00.

O ator e marionetista José Ramalho é o convidado especial e tem sido a peça central na dinamização da oficina para a construção de toda a cenografia alusiva à performance. O trabalho de encenação é da autoria de Joana Ji Antunes e a banda sonora original foi composta para este espetáculo por Narciso Fernandes.

Também a Biblioteca Municipal contribui para o programa apresentando a «Noite Assombrada: Bruxas à Solta na Biblioteca». As bruxas estarão à solta, enquanto se ouvem contos, decorrem oficinas e jogos tradicionais nas salas de leitura e no auditório. E para completar a noite, a autora Tamara Martins apresentará o seu livro “O reflexo das lágrimas de sangue”.

Com este evento e a programação que lhe está associada o Município de Fafe pretende divulgar e valorizar as tradições locais concedendo-lhes nova vida, apostar em novas abordagens artísticas para ir ao encontro dos diferentes públicos, e envolver a comunidade, sobretudo os mais jovens.

"A Bicha das Sete Cabeças": A origem da Lenda

A origem do "bicho das sete cabeças" pode estar na mitologia grega, mais precisamente na história da Hidra de Lerna.

Matar este animal foi uma das proezas de Hércules. Tinha sete cabeças e reza a lenda que ao serem cortadas, renasciam.

"Conta-se que, há muitos anos, num lugar de Moreira de Rei, existia uma enorme cobra (bicha) escondida nos silvedos, que deixava as populações aterrorizadas, pois comia as pessoas e os animais que por ali passavam.

Os habitantes do lugar, hoje denominado «Vale da Bicha», resolveram atear fogo às silvas e, assim, destruírem a bicha... Mas não contavam com uma coisa: a bicha tinha asas e voava!... Voou na direcção de Ribeiros vindo a poisar no lugar do Vinco, onde hoje existe o cemitério... E continuou aí a sua sanha destruidora, começada em Moreira de Rei.

Contra isto reagiu um senhor da Casa de Paços, que resolveu matá-la. Pegando na sua espada e acompanhado da sua cadelinha, dirigiu-se ao Vinco para matar a bicha... Mas também ele teve uma surpresa: a bicha já não estava sozinha; tivera, entretanto, seis filhos...

O nosso herói, porém, não desanimou... Mandou a cadela tomar conta dos filhos da bicha e, pegando na espada, iniciou a luta com a mãe.

Entretanto, cada a noite... O nosso homem, temendo que a luz do dia lhe não lhe permitisse acabar a missão, invocou Santa Maria, padroeira da freguesia de Ribeiros...

Dirigindo-se ao Céu, exclamou: «Santa Maria de Ribeiros, alumiai-me!»... E uma estrela, descendo do Alto, poisou num penedo e alumiou-o... Então ele, depois de matar a mãe, matou os filhos da bicha... Em seguida, dirigiu-se para casa, deitou-se e jamais se levantou."

Fonte Bibliográfica: COIMBRA, Artur Ferreira, A Terra e a Memória Fafe, Câmara Municipal de Fafe, 1997 , p.326